Quando se pensa em um thriller ambientado nos bastidores da Igreja Católica, a premissa pode parecer previsível: a morte de um papa e a reunião dos cardeais para eleger seu sucessor. “O Conclave”, dirigido pelo brilhante Edward Berger (“Nada de Novo no Front”), parte dessa ideia básica para criar uma experiência surpreendente, cativante e cheia de intrigas.
A trama se desenrola em um Vaticano fechado ao mundo exterior, onde os cardeais, isolados em seu conclave, enfrentam não apenas as pressões espirituais de sua missão, mas também uma teia de jogos de poder, lealdades divididas e segredos reveladores. Berger transforma esse cenário, que poderia facilmente se tornar monótono, em um espetáculo tenso e emocionalmente carregado.
Ralph Fiennes brilha no papel principal, entregando uma atuação de rara profundidade. Conhecido por performances memoráveis como em “A Lista de Schindler” e “O Menu”, Fiennes encarna o cardeal Thomas Lawrence, que luta para equilibrar sua convicção religiosa com a crescente preocupação pelos rumos da Igreja. Sua homilia, logo no início do conclave, é um dos momentos mágicos do filme — um discurso que ressoa mesmo para os não religiosos.
Outro destaque do elenco é Carlos Diehz, que interpreta o Cardeal Benítez. Sua performance carismática dá ainda mais peso aos conflitos internos do filme. A química entre o elenco, que inclui nomes de peso como Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini, eleva a narrativa, tornando cada interação um verdadeiro duelo de talentos.
A direção de Berger é primorosa ao capturar a claustrofobia e a tensão desse momento histórico ficcional. Ele utiliza magistralmente a trilha sonora para intensificar o desconforto e manter o público constantemente em suspense. Os sons ecoantes e as notas agudas complementam a atmosfera sombria e cheia de mistério, definindo o ritmo do filme com precisão.
“O Conclave” não se limita apenas a um drama religioso; é uma exploração fascinante dos jogos de poder, do ambiente político e dos dilemas morais que moldam uma das instituições mais antigas do mundo. Edward Berger entrega um filme que é, ao mesmo tempo, introspectivo e eletrizante, com atuações impecáveis e um roteiro que mantém o público em suspense até o último segundo. Uma obra imperdível para amantes de cinema e entusiastas de histórias complexas e bem contadas.
NOTA: 4,2